Atenção e Interpretação

O título deste livro, como tudo que Bion escreveu, é compacto, direto e autoexplicativo. Talvez resuma a postura básica de um analista – e de todo cientista.
Atenção e Interpretação aperfeiçoa a teoria de observação psicanalítica nos micro-momentos que compõem uma sessão, em suas mudanças – como na vida real, que não parecem ter sido amplamente aproveitados pelo establishment psicanalítico.
Assinala que “a sessão possibilita que o analista tenha a oportunidade de chamar atenção do analisando para fenômenos reais e correntes, os quais... ele precisaria considerar”.
Enfatiza a existência de uma questão que não tivera, até então, devida atenção em psicanálise: o mentir. Aborda essa questão sob o vértice psicanalítico, ou seja, totalmente isento de juízos morais, que poderiam ser adequados para outras disciplinas: pedagogia, religião, política e direito.
Expande a teoria dos vínculos em sua aplicação na clínica exposta inicialmente em Aprender da Experiência, em suas expressões na prática clínica; e questões relativas à presença de alucinose na vida cotidiana e na sessão analítica, um estudo iniciado em Transformações. Indica meios de detectá-la. Sugere, como instrumento clínico fundamental, inspirado em Keats, o exercício intuitivo, pelo analista, de uma “Linguagem de Consecução”. Complementar a esse exercício, que evitasse usar uma “Linguagem de Substituição” – expressão de falsidades, evasões, conluios e tendências racionalizantes no uso de memória, desejo e aparências externas, fenomênicas, concretas, sempre eivadas de enganos e ilusões.

Paulo Cesar Sandler
Tradutor